Queria estar errado!

 Como professor de sociologia, tenho que trabalhar os movimentos sociais e sua importância social, e principalmente a conquista dos direitos civis e a sua manutenção.
O que me deixou muito triste essa semana foi o contato de um ex-aluno ao qual dei aula no interior. Ele entrou em contato e fiquei feliz por ainda se lembrar de mim e perguntei como estavam as coisas e ele no começo disse que estava bem, mas depois foi me retratando a realidade que ele passa e isso me chateou demais, pois o que mais me chocou foi ele me falar “Professor, você estava certo e eu não acreditei, pensei que tinha amigos e pessoas que me aceitavam e que me apoiavam, mas era uma ilusão, pois depois que sai da escola, fui rejeitado por todos!”.
Na escola ele era um garoto muito alegre, simpático, inteligente, comunicativo e carinhoso com todos os professores e alunos, todos gostavam dele. Mas na escola esconde a realidade da sociedade, na escola muitas vezes as pessoas são protegidas pelos preconceitos da sociedade. 
Esse aluno não tinha defeito nenhum, mas para a sociedade, o maior pecado dele era ser “homosexual”! 
Lembro que na escola trabalhei o movimento LGBT e suas conquistas e importância para a sociedade, e me lembro que muitos alunos falaram que eu estava errado, que não existia mais isso, que eles não eram preconceituosos. Esse aluno foi um dos que falou que não sofria preconceito na escola e na sociedade, disse que ficava feliz por ele, mas que temos que entender os problemas sociais e a realidade para todos e não somente para uma minoria. 
Ele me contou que após sair da escola, ele já trabalhava, era assediado no trabalho por clientes velhos diariamente, quando saia do trabalho e ia para casa era abordado como garoto de programa e já chegou a ser agredido, mesmo nunca ter feito programa, pois trabalhava e não precisava. Chegou a ser agredido ao sair com amigos num bar à noite, simplesmente por ser o que era. E me disse que ficou chocado ao ver que um dos agressores era um ex-colega de escola, e quando chegou em casa chorou por dias. Ele me relatou várias agressões que sofreu, ele queria desabafar, queria ser ouvido. O que eu devia falar?  Fiquei quieto e ouvi, deixar o desabafar, culpar o mundo. Depois falei para procurar um psicólogo ou participar de um movimento LGBT e ter apoio e mostrar para a sociedade o quão especial ele é!
Como professor eu tento diminuir os preconceitos dos alunos, mas é difícil, e quando tem alunos que são homosexuais, eles vem conversar comigo e me contam o que podem fazer, e é muito difícil dizer que eles tem que ser fortes, que ter que procurar apoio, pois a sociedade é difícil, dura e preconceituosa. Que futuramente eles vão sofrer agressões simplesmente por serem o que são, e isso não é errado eles serem o que são, o errado são os agressores!
Muitos acham que eu não entendo a dor deles, eu sei o que sentem, pois sou um homem negro em uma sociedade racista. Sofri racismo na escola em que dei aula no interior, não tive apoio dos outros professores e nem da diretoria de ensino. Eu sei a dor de você ser o que é e ser agredido simplesmente por isso. 
Várias vezes que posto algum texto sobre o assunto, me ofendem não por minhas ideias, mas ofendem a minha profissão como professor. Nunca vi um professor branco ser ofendido do mesmo modo que eu, simplesmente por ser negro.
A educação é a unica forma de diminuir os preconceitos contra os grupos LGBT, negros, feministas, ambientalistas, etc. Mas é um trabalho difícil porque as famílias ainda são muito preconceituosas. 
Chorei porque estava certo, queria tanto estar errado!


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